INTRODUÇÂO:
O povo Gamela é uma comunidade indígena marcada pela luta na busca do seu
território e suas tradições. O termo “Gamela” foi denominado pelos portugueses
desde o período colonial, é associado a uma espécie de gamela colocada nos
lábios com cerca de sete a dez centímetros, onde era depositado comidas,
bebidas etc. Sua história foi marcada pela grande violência sofrida ao passar
dos anos, com intuito da retomada de suas terras, o processo de grilagem era
comum, onde invasores tinham o objetivo de tomar seus territórios de forma
ilegal, levando a migração dessas comunidades. Além disso, a miscigenação
contribuía para esse fator, a mistura de raças com diferentes etnias levava a
desconsiderá-los como indígenas devido a sua identidade, havendo preconceito,
violência e patriarcalismo.
A
referência do surgimento desse povo, se diz que os “Gamela” teriam vivido às
margens do Rio Parnaíba, no Piauí, desde então começaram a migração em outras
cidades devido as terras invadidas e tomadas, seu território originário se
estendia até algumas partes do estado do Maranhão, onde atualmente estão
localizados. Mesmo com sua história marcada pela dor da perda e retomada de
habitat desde a era colonial, essa comunidade indígena persiste na luta, para
que tenham seus direitos assegurados.
ASPECTOS
SOCIAIS E ETNICOS:
O povo indígena Gamela, são um
grupo de pessoas que historicamente vem sendo ameaçados e assassinados, por
lutar pelo reconhecimento do seu território e sua etnicidade (seu reconhecimento étnico significaria
um reforço a garantia do seu território, que em grande parte continua em posse
de fazendeiros e empresários). Sua história é
marcado por uma vida inteira de luta pelas terras que lhes pertencem e que
foram apropriadas por grileiros. Eles habitavam na
“Baixada Maranhense”, e nessa região, sofreram
grandes perdas territoriais e tiveram suas condições de sobrevivência severamente prejudicadas. Durante muito tempo, essa sociedade indígena era considerada como extinta, isolada e “invisíveis”, pelo fato da sua etnia não ser reconhecida. Muitas vezes haviam questionamentos se os Gamela eram considerados índios ou não, isso, por apresentarem pouca distintividade cultural, a situação em que não se apresentavam os elementos que costumavam ser considerados definidores de um índio. Nessa situação os estereótipos assumem posição de destaque no processo de (in) visibilidade.
A luta do povo Gamela pode ser entendida como um processo
de “territorialização” e “etnogênese”. O
termo “territorialização” é um processo que vai além de um conceito de
território como algo físico, mas político, o que leva a novas identidades e a
uma reorganização social. Nesse processo os povos indígenas buscam reagir à imagem
negativa que tiveram que enfrentar ao longo de sua trajetória de luta e
conquista. Essas relações levam ao estabelecimento de uma identidade étnica
diferenciadora, a partir da relação com o passado. O termo “etnogênese” é um
processo que permite reconhecer identidades tidas como esquecidas e ouvir a voz
aos povos que vinham tendo sua etnicidade negada.
Atualmente, os Gamela se articulam e se
organizam, criando mecanismos de reconhecimento e de luta pela implementação de
seus direitos ao território e a etnicidade. O povo Gamela sai às ruas
acrescentando às suas reivindicações de reconhecimento étnico, de território, o
direito a um ambiente livre de destruição por parte de invasores. Para esse
povo esses direitos se entrelaçam, não podem ser vistos de maneira separada,
pois território e identidade estão interligados. Portanto, garantir seu
território significa garantir um espaço para manter suas especificidades.
ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E RELIGIOSOS:
Os Gamela estão atualmente situados no estado do
Maranhão, os municípios com incidência desses povos são Matinha, Penalva e
Viana. E no Estado do Piauí nos municípios
de Baixa Grande do Ribeiro, Bom Jesus, Santa Filomena. As línguas
faladas são a’uwe e português, e as religiões são diversas. Ao longo do
contato com a sociedade, os Gamela sofreram um processo de perda populacional e
apagamento, sendo considerados povos esquecidos, desde o século XVIII.
Diante do quadro institucional de maior
favorecimento à expressão de sua identidade indígenas no século XXI, os Gamelas
hoje contituem cerca de 400 famílias (1200 pessoas) e passam a se
organizar para reivindicar o direito ao seu território originário.
A etnia do povo Gamela só passou a ser reconhecida
recentemente, quando as os prórpios Gamelas começaram a se autodeclarar assim.
Agora você deve estar se pergutando: por que eles não queriam se declarar
indígenas? A verdade é que se declarar indígena naquela região foi e ainda é um
grande perigo, isso por conta dos conflitos entre os fazendeiros e os indígenas
pelas terras. Hoje, embora todo este risco que os povos Gamelas correm ao se
autodeclarar assim, eles mantém sua identidade viva e pública, lutando dia após
dia para reconquistar terras que lhes pertecencem.
PROCESSOS
RESISTENCIA E LUTA
O povo Gamela vem lutando desde o ano de 2013 pela
retomada do território. Através do processo de grilagem e de um grande período
de violência e violação de direitos humanos, suas terras foram tomadas e
transformadas em propriedades privadas, mesmo com o estado brasileiro
reconhecendo o fluxo migratório deste povo indígena desde 1784. A história da
luta do povo Gamela é muito antiga e ocorre desde o império português. O
processo de reconhecimento formal da territorialidade do povo Gamela se inicia
no século XVIII, quando o Império Português formalizou a doação de 14 mil
hectares de terra. Porém hoje só lhes restaram cerca de 552 hectares, todo o
resto foi levado por grileiros, fazendeiros, donos de grandes latifúndios em
conflitos sangrentos que assassinaram muitos indígenas dessa comunidade.
Durante os anos de 2013 a 2017 os Gamelas,
participam de encontros e protestos reivindicando seu território original, além
de denunciarem o intenso número de desmatamento e queimadas feitas pelos
grandes fazendeiros. Como resultado os ataques a essa sociedade se
intensificaram: em 02 de dezembro de 2015 os Gamelas sofrem um
ataque após a retomada deles para dois territórios que foram apropriados, essas
terras pertenciam a um ex-prefeito do município de Viana. Em 2016 houve o
assassinato de Fernando Gamela, de 22 anos. Em 2017 os Gamelas retomam a mais
um território seu de origem, dias depois sofrem um ataque, onde 10 pessoas
saíram feridas.
Atualmente o processo de demarcação das terras dos
Gamelas ainda não foi concluído pela Funai, porém eles continuam lutando com
apoio de organizações parceiras e resistem nas terras que ainda possuem e que
conseguiram ao longo desses anos de luta. A luta do povo Gamela já
perdura a décadas com o objetivo de ter seus territórios originários de volta,
o que deveriam ser constitucionalmente garantidos, além da busca pela paz já
que são perseguidos a anos, tendo seus direitos humanos violados.
Referências:
Equipe
de edição da Enciclopédia Povos Indígenas no Brasil. "Gamela"; Povos
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em:https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Gamela. Acesso em: 03 de jan de 2022.
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Acesso em: 04 de jan de 2022.
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Acesso em: 02 de jan de 2022 .
"Os Gamela, um povo em busca de sua
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em: https://terrasindigenas.org.br/pt-br/noticia/185163. Acesso em 03 de
jan de 2022.
Grupo: Anna Júlia Luiz Neiva, Heloísa Ramos
Rodrigues , Gisele Miranda Torres, Leonarda Oliveira
Godinho, Maria Clara Esteves Tameirão