Os povos Macuxi.
A mitologia Macuxi tem enorme participação da fauna, com seus personagens sendo, em sua maioria, animais com características e sentimentos humanos. Os mitos trazem situações cotidianas e comuns sendo resolvidas com soluções extraordinárias, como a história d’A Sapa, onde um anfíbio é progenitor de dois felinos.
A culinária Macuxi trás alguns pratos típicos, como o Damurida, um caldo quente feito com água, uma proteína (que pode ser peixe ou caça), pimentas variadas, um verde, geralmente cariru, tucupi negro e se come com beiju de mandioca. Um exemplo de bebida que os Macuxi fazem é o Caxiri, uma bebida feita à base de mandioca. História de Contato
A ocupação das aldeias desses povos foi muito bem planejada estrategicamente pelos militares portugueses, com o intuito de impedir que os espanhóis e holandeses invadissem o território. Foi construído um forte chamado São Joaquim, com a proteção dos rios Uraricoera e Tacutu, formando o Rio Branco. O aldeamento dos índios através de armamento e presentes convenceu-os de aceitarem as culturas da nova nação, com perspectiva de melhoria em suas condições de vida, abordando suas vantagens e desvantagens.
As informações dos primeiros contatos são raras e fragmentárias como diz o antropólogo Paulo Santilli: “temos notícia de apenas dois Principaes Macuxi: Ananahy em 1784 e Paraujamari em 1788, que chegaram a aldear-se, trazendo pequenos grupos consigo. No entanto, não permaneceram por muito tempo nos aldeamentos. Logo após estas notícias, em 1790, Parauijamari seria acusado de liderar uma grande rebelião, quando a maior parte dos índios aldeados fugiu e os remanescentes foram espalhados por outros aldeamentos portugueses no rio Negro.” Essa revolta trouxe diversas consequências, como o fim do aldeamento e o encerramento das novas tentativas de colonização ainda no século XVIII. Entretanto há evidências de que houve atuação do recrutamento forçado da população indígena, motivados por outros interesses que seriam estabelecidos na região, ocorrendo grande impacto demográfico e territorial dos Macuxi.
Extrativismo
Com a exploração da borracha na floresta amazônica no século XIX, os nativos se direcionaram para extração do caucho e a balata nas matas do Rio Branco. No entanto, o recrutamento era principalmente na área do Rio Negro com trabalhos forçados ao extrativismo. Essas extrações eram privadas, apesar de que o governo imperial e depois republicano tomou autonomia para a administração das políticas indigenistas no local, sendo colaboradores para a extração da borracha atingir seu ápice, como o controle do comércio e os contatos com o exterior.
Pecuária
O capital extrativista financiou a pecuária que era estabelecida no alto do Rio Branco, favorecendo a força de trabalho dos índios da região. Os regatões, homens que trocavam produtos manufaturados por extrações diretamente junto à população indígena e regional, e outros empresários tinham certa liberdade para penalizar os índios e forçá-los ao trabalho sem serem punidos. A imigração forçada demarca esse momento histórico, pois os macuxi eram expulsos de suas terras pelo avanço da pecuária. As aldeias abandonadas provocadas pelas fugas foram registradas por cronistas do rio branco e permanecem até os dias atuais marcando as narrativas de dor e sofrimento desses povos.
Organização Indígena
A liderança política entre os povos Macuxi é assumida por um indivíduo na articulação de um grupo local, diante da violência abrupta da intensificação do contato com os regionais nos primeiros anos do século XX converteu-se em instância catalisadora das demandas regionais.
Nos anos 1970, período marcado pela forte intensificação e ampliação do contato, algumas lideranças políticas de grupos locais macuxi passaram a se destacar, ao exercerem funções privilegiadas de intermediação no estabelecimento das relações entre a população indígena habitante nas aldeias e os agentes da sociedade nacional.
Intermediadas por esses chefes locais, as agências indigenistas converteram-se em fontes de bens industrializados para os índios alternativas aos fazendeiros e garimpeiros. Em razão da posição diferencial dos agentes indigenistas oficiais e dos missionários católicos diante dos regionais, situados em pólos antagônicos na disputa pelo reconhecimento dos direitos territoriais indígenas, a estratégia utilizada pelos religiosos, e em seguida pela Funai, para ampliar sua influência sobre os índios foi a de minar os vínculos clientelistas que os ligavam aos regionais. Até então, os artigos industrializados eventualmente fornecidos pelos regionais para os índios eram contabilizados pelos primeiros numa listagem de débitos a serem cobrados quando se fizesse necessária a força de trabalho indígena. A fim de minar o sistema, os missionários trataram de suprir, em parte, os artigos industrializados demandados pelos índios, pressionando-os para que quitasse as dívidas contraídas com seus respectivos “patrões”.
A maneira como tal “substituição” de dívidas foi operada deu-se através da promoção de reuniões anuais com as lideranças indígenas locais, as assim chamadas “assembléias de tuxauas”, patrocinadas pela Diocese de Roraima a partir de 1975, em que se discutiam as condições e os “méritos” de cada comunidade para acessar os bens disponíveis pelos missionários. Cabe notar ainda que as lideranças políticas presentes às assembléias provinham das aldeias onde os missionários concentram sua atuação, isto é, na região das serras: recorte concebido em oposição ao lavrado e, portanto, mais distante das sedes das “fazendas” e dos povoados.
Foram desenvolvidos projetos ligados à pecuária e à distribuição de alimentos, os quais não foram bem sucedidos e suscitaram uma série de conflitos, disputas e acusações de favorecimento indevido entre as diversas lideranças indígenas, dando ensejo ao surgimento de um novo tipo de organização indígena, concebida também inicialmente pelos missionários, que consistia na formação de “conselhos regionais”, isto é, instâncias supra-aldeãs, descoladas das comunidades locais, articulando lideranças Macuxi, Ingaricó, Taurepang, Wapixana e Yanomami.
Durante a assembleia dos tuxauas ocorrida em janeiro de 1984, foram criados sete conselhos nas seguintes regiões: Serras, Surumu, Amajari, Serra da Lua, Raposa, Taiano e Catrimani. Sua incumbência era gerir as relações externas às comunidades indígenas, tanto no plano das relações com a sociedade regional, como na formulação e direcionamento dos projetos patrocinados por diferentes agências. O mais atuante foi sem dúvida o conselho da região das serras, que funcionou junto aos locais onde ocorreram conflitos agudos com os regionais, encaminhando denúncias às autoridades governamentais.
Como resultado dos conselhos regionais, formou-se uma coordenação geral, sediada em Boa Vista, momento em que se pode falar precisamente do surgimento do Conselho Indígena de Roraima (CIR). Os membros dessa coordenação são eleitos pelo voto aberto dos conselheiros regionais, respeitando-se um esquema de rodízio de lideranças.
Ao longo desse processo, outras organizações vêm sendo criadas nessa região, reunindo segmentos indígenas favoráveis à homologação da TI Raposa/Serra do Sol em área contínua, como é o caso do próprio CIR (Cujo atual coordenador é Macuxi), da APIR (Associação dos Povos Indígenas de Roraima), da OPIR (Organização dos Professores Indígenas de Roraima) e da OMIR (Organização das Mulheres Indígenas de Roraima). Outras organizações são manifestamente contrárias à demarcação em área contínua, tais como a SODIUR (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima), a ARIKON (Associação Regional Indígena dos Rios Kinô, Cotingo e Monte Roraima), ALIDCIR (Aliança para o Desenvolvimento das Comunidades Indígenas de Roraima) e AMIGB (Associação Municipal Indígena Guàkrî de Boa Vista).
Organização Social
As aldeias na floresta são descritas por casas comunais em que vivem diferentes grupos domésticos, constituídas por famílias grandes, ligadas por laços de parentesco. Na savana, habitualmente encontram-se casas dispersas que acomodam os grupos domésticos que sua composição é análoga a aquela descrita anteriormente, assim sendo, a aldeia na savana configura um desdobramento da casa comunal típica da floresta.
As residências aparentemente parecem se distribuir de maneira aleatória, no entanto, em uma perspectiva mais atenta, percebe-se que elas se dispõem em conjuntos correspondentes a parentelas. Essas formam unidades políticas em que sua interação perfaz a vida social e política da aldeia.
Essas parentelas são interligadas por casamentos. Em outras palavras, após um casamento, o casal passa a morar na casa da família da mulher, enquanto o pai da mesma se torna o líder-sogro, cuja capacidade política na manipulação dos laços de parentesco depende de sua existência. Com caimento do líder-sogro, o grupo local pode se desfazer ou tomar formas diferentes.
Essa política matrimonial geralmente beneficia as reuniões endogâmicas, em outras palavras, procura-se casar dentro das parentelas que formam a aldeia. Contudo, é verificável uma alta incidência de casamentos entre aldeias que estreitam suas relações, formando conglomerados regionais.
Para os Macuxi, relações entre cunhados (yakó) são marcadas por uma enorme liberdade e igualitarismo, ao mesmo tempo que, diversamente, a relação entre o sogro e genro (pái-to) supõe evitação, subordinação e consideráveis obrigações materiais por parte do genro com o sogro.
Em uma aldeia, o líder é aquele que possui uma rede mais ampla de afins, e assim sendo, aliados políticos. Atualmente, há que se considerar ainda o fator decisivo que retrata a atuação de agências indígenas e indigenistas, pelas quais o líder ganharia prestígio e apoio material que podem conferir maior estabilidade.
Aspectos religiosos
Povos indígenas da região norte, tanto do Brasil (Macuxi) como da Venezuela (Kapon e Pemom) têm a mesma cosmovisão do surgimento do mundo e consideram-se parentes e descedentes de heróis míticos, os irmãos Makunaimî e Insikiran, filhos de Wei (deidade do sol). Para esses povos, os irmãos forjaram em Piatai Datai (em épocas remotas), a atual configuração do mundo, conforme revela uma tradição oral compartilhada pelos mesmos
Cosmologia e xamanismo
Encontrado no horizonte, o universo macuxi é composto por três planos sobrepostos no espaço. A parte terrestre onde habitamos, é o plano intermediário, e abaixo dessa superfície existe um plano subterrâneo, onde vivem os wanabaricon, Kapragon, que são seres semelhantes ao homem. Os Macuxi não possuem nenhum tipo de relação com esses seres sobrenaturais.
O plano intermediário, detém posse a duas classes de seres, Omá:Kon e Makoi, na qual, possuem habitações distintas. Os Omá:kon residem as serras, em particular as áreas rochosas e mais áridas da cordilheira, bem como as matas. Sua aparência, embora muito diversa, é marcadamente selvagem ou anti-social: têm unhas e cabelos longos e fala inarticulada. Manifestam-se mais comumente sob a aparência de animais de caça, embora sejam eles os caçadores de homens. Quanto aos seres Makoi, possuem preferência em habitarem cachoeiras e poços. São considerados os seres mais astros os homens, atraindo-os para o seu domínio e devorando-os.
Uma alma humana quando é apreendida pelos, Omá:kon e Makoi, as vítimas acabam morrendo por doenças, e apenas o xamã possui a habilidade de libertar essa alma aprisionada.
Mitos Macuxi
Os mitos macuxi, tem grande relação com a fauna. Os personagens, em sua maioria, são representados por animais. Os animais maiores e mais ferozes geralmente tem um perfil mais forte ameaçador, como no mito "A Sapa", onde dois dos personagens pratica o mal são onças, uma é vermelha e a outra é pintada, animal muito presente na identidade da fauna brasileira e que corre risco de extinção.
Nas culturas, os mitos quase sempre se utilizam de metáforas e eufemismos para representar algo que acontece durante a história. Nos Macuxi isso não é diferente. No conto "O Urubu-Rei", onde o personagem que é humano vê a sua aldeia definhando perante as doenças, é usado um eufemismo de que esse personagem se joga aos cadáveres, para dizer que ele morreu.
Cosmologia
Por se considerarem descendentes comuns dos heróis míticos, Macunaíma e Enxikirang, filhos do sol, Os povos Kapon, Tomba, Pemon e Yomba, todos se identificam como parentes, e acreditam que esses heróis foram responsáveis pela atual configuração da terra.
Em várias versões narrativas - Pandon - essas pessoas contam sobre os grãos de milho e os vestígios de frutos que macunaíma notou entre os dentes de uma cutia adormecida com a boca aberta, depois saiu para perseguir esse bicho e encontrou a árvore wazaka - a árvore da vida - com várias plantas silvestres e cultivadas das quais os índios dependem para crescer em seus galhos. Macunaíma decidiu então cortar o Piai, tronco da árvore wazaka que se inclina para o nordeste. Portanto, nessa direção, todas as plantas comestíveis encontradas até agora cairão principalmente nas áreas florestadas.
Uma torrente jorrando do tronco da árvore wazaka causou uma grande inundação naquela época primitiva. Segundo a mitologia, esse tronco ainda existe: é o Monte Roraima, e os cursos de água que dele saem banham-se nos territórios tradicionais desses povos. Portanto, o mito fala sobre a origem do cultivo humano e sua diferenciação racial, que também se reflete na localização geográfica.
Localização e demografia.
Os Macuxi tem sua origem na América Central ou no Caribe. No Brasil, eles habitam o norte e noroeste do Estado de Roraima. Ainda que, a maior parte do número está localizada na região noroeste, algumas vezes migrando para outras regiões por conta de casamentos interétnicos. O censo de 2010 e a contagem demográfica da Secretaria Especial de Sáude Indígena (SESAI), LESTE, estimam que a população Macuxi em território brasileiro é de cerca de 33 mil habitantes, já na Guiana, o número registrado é de aproximadamente 9 mil habitantes.
O território dos Macuxi propaga-se por duas áreas por duas áreas ecologicamente diferentes: ao sul, aos campos e ao norte, área pelo qual há predominância de serras em que se adensa a floresta. A dimensão desse território pode ser estimada em torno de 30 mil a 40 mil km². De acordo com o Instituto Socioambiental, a distribuição espacial desses povos faz-se em diversas aldeias e pequenas habitações isoladas. No Brasil, acredita-se que há 140 aldeias dos Macuxis, todavia não há dados precisos a respeito do número.
Bibliografia
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https://www.tempusactas.unb.br/index.php/tempus/article/view/1097
Acesso em 07 de Janeiro de 2022.
Damurida, cariru, caxiri, gerimu e tucupi, conheça a original culinária de Roraima. 2020. Brasil De Fato. Disponível em:
https://www.brasildefato.com.br/2020/12/03/damurida-cariru-caxiri-gerimu-e-tucupi-conheca-a-original-culinaria-de-roraima
Acessado em 07 de Janeiro de 2022.
Grupo: Ana isa, Amanda, Giovanna, Fabiana e Wilson. 2° ano informática.