Os Tupinambás

 

OS POVOS TUPINAMBÁS



Aspectos historicos:


Os Tupinambás são índios que por volta do século XVI habitavam em praticamente toda a costa brasileira. Para se ter uma ideia, os índios tupinambás ocupavam uma área que ia do litoral norte paulistano e atravessava os estados do Maranhão e Pará até chegar no rio Amazonas. Foi uma tribo que chamou muito a atenção dos portugueses, no sentido em que praticavam rituais de antropofagia. Eles normalmente comiam seus adversários acreditando que estavam se apropriando de suas habilidades, forças ou poder.

O povo Tupinambá tem um histórico de ocupação bem intenso. Eles já habitavam a região sul da Bahia quando as primeiras frotas de europeus chegaram à região em 1500. Linguistas, como Métraux, consideram que a migração tupi em direção à costa atlântica teria se dado há algumas décadas antes da chegada dos colonizadores. Entretanto, arqueólogos apontam para uma migração anterior: estas populações estavam ali há mais de 700 anos. Vários documentos comprovam que foi na década de 1680 que a aldeia de Nossa Senhora da Escada foi fundada. O espaço dessa aldeia foi apropriado muito cedo pelos índios que conseguiram, por exemplo, que lhes fossem concedidos cargos administrativos de Capitão-mor e Sargento-mor. Ao mesmo tempo, os índios viviam cotidianamente na área da mata, onde tinham suas roças (a posse de algumas destas áreas, chamadas “terras dos ditos índios”,foi reconhecida na época). Esse modo de ocupação do território em que o tempo cotidiano é dividido entre aldeia e as áreas de mata próximas aos rios (principalmente o curso dos rios Acuípe e o Pixixica) persiste até hoje. Na segunda metade do século 18, o aldeamento indígena foi convertido em Vila de Olivença de Índios e sua administração passou a ser regida pelo Diretório dos Índios. No Período Imperial, os índios que habitavam na Vila de Olivença voltaram a assumir papéis administrativos. Contudo, tal situação não foi resultado de uma mudança nas leis vigentes. Pelo contrário, esta aconteceu apesar da continuidade das leis indigenistas, particularmente, do Código de Posturas, no qual a política de tutela dos índios deixava-os nas mãos de vereadores com interesses econômicos locais bastante claros. A intervenção e ação dos índios da vila se manifestaram de diversas formas: foram eleitos para juiz de paz e considerados proprietários de terras que geriram diretamente.

Curiosidades:
* O casamento na tribo dos Tupinambás era pela união avuncular, ou seja, o tio materno se casava com a sobrinha;
* Além da mandioca, os tupinambás também cultivavam milho, frutas, abóbora, feijão, tabaco, e algodão;
* As principais informações sobre os tupinambás foram passadas por cronistas como Soares de Sousa, Hans Staden, Pero de Magalhães de Gândavo, e Fernão Cardim.



Aspectos sociais e religiosos:


A princípio, no início do período colonial, a sociedade tupinambá era dividida em tribos, compostas por habitantes de 6 a 8 malocas. Nessa associação, cada pessoa tinha o seu papel; os homens eram responsáveis de realizar atividades como a caça, pesca e coleta, além de construírem instrumentos de guerra. Já as mulheres tinham o dever de cuidar da agricultura - na qual cultivavam bastante mandioca - ademais, também praticavam o artesanato e cozinhavam. A maioria das práticas exercidas pelos tupinambás era realizada no terreiro, o qual era cercado por uma organização de malocas. Para se protegerem dos ataques, eles construíam uma espécie de cerca com madeira ao redor das malocas. Apesar de serem divididos em tribos, eles eram bastante unidos, pois frequentemente se juntavam em mutirões para ajudar os outros, a fim de terminar o trabalho mais rápido.

Nesse pátio central também era realizado os seus rituais religiosos, como o canibalismo - prática baseada na crença de que obteriam as qualidades do inimigo ao comê-lo. É importante ressaltar que eles não comiam a carne de qualquer pessoa, mas sim apenas dos guerreiros aprisionados em combate. Então as guerras eram importantes tanto para a realização desse ritual, quanto para prestigiar os seus guerreiros Além desse, os Tupinambás tinham diversos outros costumes baseados na fé. Assim que nasciam, os meninos recebiam pequenos arcos e flechas para garantir que seriam bons caçadores; quando morriam, eram sepultados em posição fetal, pois acreditavam que essa era a melhor maneira para alcançar a “terra sem males”. Eles eram politeístas, pois acreditavam na existência de um deus relacionado a cada coisa da natureza. A sua crença também era baseada na existência de espíritos e heróis, os quais teriam ensinado as artes essenciais à vida em sociedade. Geralmente, a pessoa que fazia o intermédio entre esses povos e o mundo dos espíritos era o pajé, o qual também tinha muita importância como curandeiro. Os seus líderes não eram selecionados de forma hereditária, mas sim escolhidos de acordo com alguns requisitos que fossem necessários para uma melhor sobrevivência do grupo, como a força e o saber. Relato do historiador e cronista Gândavo quanto a organização espacial e social nas aldeias:
Vivem todos em aldeias, pode haver em cada uma sete, oito casas, as quais são compridas feitas à maneira de cordoarias; e cada uma delas está cheia de gente duma parte e doutra, e cada um por si tem sua estância e sua rede armada em que dorme, e assim estão todos juntos uns dos outros por ordem, e pelo meio da casa fica um caminho aberto para se servirem. Não há como digo entre eles nenhum Rei, nem Justiça, somente em cada aldeia tem um principal que é como capitão, ao qual obedecem por vontade e não por força; morrendo este principal fica seu filho no mesmo lugar; não serve doutra cousa se não de ir com eles à guerra, e aconselhá-los como se hão de haver na peleja (...)



População e Localização:


No período colonial, os Tupinambás ocupavam a região litorânea de São Paulo até ao Cabo de São Tomé, no Rio de Janeiro, o Recôncavo Baiano, passando pela foz do rio São Francisco, pelo Maranhão e pelo Pará. A existência desse grupo indígena tornou-se popular no período colonial devido a peculiaridade de seus costumes.

Atualmente são chamados de Tupinambá de Olivença e estão fixos em um aldeamento indígena na região de Mata Atlântica, no sul da Bahia, fundada em 1968 por missionários jesuítas. O local situa-se a 10 quilômetros ao norte da cidade de Ilhéus, se estendendo da costa marítima da vila de Olivença até a Serra do Padeiro, nos municípios de Buerarema e Una. Foram reconhecidos oficialmente pela Funai (Fundação Nacional do Índio) como indígenas apenas em 2001, porém a demarcação do seu território foi concluída em 2009 com a publicação do relatório de identificação e delimitação da “Terra Indígena Tupinambá de Olivença”, após ter sido iniciado no ano de 2003. Em 2004, uma análise demográfica dos dados na Funasa (Fundação Nacional de Saúde), juntamente com estudos de campo, confirmou que se trata de uma população com baixa expectativa de vida e com uma mortalidade eminente, posto que mais de 50% da população tem até 24 anos de idade, 35% possui até 14 anos de idade, enquanto os idosos com mais 65 anos de idade representam apenas 5% da população. No mesmo ano, a partir de dados levantados pela Funai, estimou-se cerca de 3.000 indígenas Tupinambás ocupando a região. Em 2010, também por estudos da Funasa, foi estimado cerca de 4.486 indígenas na área.
Demais informações da população na Terra Indígina Tupinambá de Olivença:



História do contato:


Os povos Tupinambás habitavam quase toda a costa do Brasil, indo desde o Recôncavo Baiano até ao atual Rio de Janeiro, muito antes da chegada dos europeus, o que contradiz os dizeres eurocêntricos de que “descobriram” esta região. Sendo que os países que entraram em contato de início com os Tupinambás foram os Portugueses, que se tornariam inimigos, e os Franceses, que se tornariam aliados. No contato entre estes povos, houve um imenso choque-de-cultura, pois os Tupinambás possuíam uma característica que chocava os portugueses e franceses, eles faziam rituais de antropofagia, ou seja, eram canibais. Os detalhes sobre estes rituais serão ditos mais à frente. Um dos melhores exemplos descritivos do contato entre os europeus e o povo Tupinambá é o livro “Duas Viagens ao Brasil”, escrito pelo alemão Hans Staden, onde ele conta que foi capturado e mantido prisioneiro durante nove meses em uma vila Tupinambá, relatando os acontecimentos, sua cultura, suas crenças, e suas interações com os europeus. As interações com os europeus era principalmente com franceses e portugueses, sendo os portugueses seus inimigos, que capturavam os índios para servir de mão-de-obra nas monoculturas de cana-de-açúcar. Já os franceses eram aliados e negociavam troca de itens como pau-brasil e farinha de mandioca, em troca de machados, espelhos, lanças, etc. Inclusive as relações de respeito dos Tupinambás com os franceses é tamanha, que, segundo Hans Staden conta em seu livro, não o mataram assim que chegou, pois não tinha certeza absoluta se era francês ou português, mesmo ele tendo matado inúmeros guerreiros de tribo. Além de que se aliaram aos franceses e lutaram contra os portugueses na revolta que ficou conhecida como Confederação dos Tamoios. O contato com os homens brancos trouxe também, infelizmente, muitas enfermidades, acarretando uma quase extinção dos Tupinambás pela varíola.



Cultura:


Os primeiros Tupinambás viviam em habitações conhecidas como malocas, e dividiam-se em tribos. Cada tribo tinha entre 6 a 8 malocas e aproximadamente 200 pessoas. Praticavam caça, coleta, pesca e agricultura. Os homens eram os responsáveis pela caça, coleta e a pesca, assim como a produção de armas como arcos, flechas e lanças, usando madeira e pedra para fazer suas armas e ferramentas. Já a agricultura, onde a mandioca dos principais cultivos era e ainda é a o maior, tanto como o preparo da comida e o artesanato, como cerâmica e redes, eram trabalho das mulheres. A guerra era uma parte importante da cultura dos tupinambás, sendo um dos rituais ligados a ela a antropofagia citada anteriormente. A antropofagia era o costume de comer a carne humana dos guerreiros inimigos, pois acreditavam que iriam adquirir a força e a inteligência dos mesmos. Hans Staden conta em seu livro, “Duas viagens ao Brasil”, detalhadamente o processo da antropofagia, desde o momento da chegada na tribo, até o momento da morte:

“Quando trazem para casa um inimigo, os primeiros a bater nele são as mulheres e as crianças. Depois colam nele penas cinzas, raspam-lhe as sobrancelhas, dançam em volta dele e atam-no direito, de forma a não poder fugir. Depois dão-lhe uma mulher, que o alimenta e também se entretém com ele. Se ela recebe um filho dele, criam-no até que fique grande e depois, quando lhes vem à mente, matam-no. Alimentam bem o prisioneiro. Mantêm-no assim durante algum tempo e preparam-se para a festa. Nessa ocasião produzem boa quantidade de vasos nos quais colocam sua bebida, e queimam também recipientes especiais para as coisas com as quais o pintam e enfeitam. Confeccionam, ainda, ramos de penas e os amarram à maça com a qual o matam. Fazem também uma grande corda, que chamam de muçurana. Com essa corda amarram-no antes de matá-lo. Ao juntarem todas as coisas, decidem o momento em que o prisioneiro deverá morrer e convidam os selvagens de outras aldeias para que os visitem. Enchem, então, todos os vasos de bebida. Um ou dois dias antes de as mulheres prepararem as bebidas, levam o prisioneiro uma ou duas vezes para o descampado entre as cabanas e dançam em torno dele. Assim que todos os que vieram de fora estiverem reunidos, o chefe da cabana lhes dá as boas-vindas e diz: “Agora venham e ajudem a comer o vosso inimigo”. Um dia antes de começarem a beber, amarram a muçurana ao redor do pescoço dele e pintam a ibira-pema com a qual o matarão. O desenho ao lado mostra como é a maça. Ela tem mais de uma braça de comprimento. Os selvagens untam-na com um material colante. Depois pegam cascas de ovo, de cor cinza e pertencentes a uma ave chamada macaguá; raspam-nas até virarem pó e passam este na maça. A seguir uma mulher se senta e desenha algo no pó de casca de ovo que foi aplicado. Enquanto ela pinta, muitas mulheres ficam em volta e cantam. Quando finalmente a ibira-pema está decorada com ramos de penas e outras coisas, então ela é pendurada num travessão dentro de uma cabana desocupada. Os selvagens, então, passam a noite inteira cantando em torno da maça. Da mesma forma pintam o rosto do prisioneiro. Os demais continuam a cantar mesmo quando a mulher o está pintando. Quando começam a beber, fazem vir o prisioneiro. Este tem de beber com os selvagens. Eles conversam com ele. Quando terminam de beber, descansam no dia seguinte e constroem para o prisioneiro uma pequena barraca no lugar onde deverá morrer. Este passa a noite deitado nela, sob severa vigilância. De madrugada, bem antes do amanhecer, eles vêm e dançam e cantam ao redor da maça com a qual deverão matá-lo, até o raiar do dia. Tiram, então, o prisioneiro da barraca, desmontam-na e abrem uma clareira. Soltam a muçurana de seu pescoço e passam-na em volta do corpo e depois puxam-na com força, dos dois lados. Ele agora fica amarrado no centro. Muitas pessoas puxam a corda de ambos os lados. Deixam-no assim por algum tempo e põem à frente dele pequenas pedras, para que possa atirá-las contra as mulheres que andam em torno dele e lhe dizem, de forma ameaçadora, como querem comê-lo. As mulheres estão pintadas e, depois de ele ter sido esquartejado, devem andar em volta das cabanas com os quatro primeiros pedaços. Isso para grande regozijo dos remanescentes. Agora fazem uma fogueira, a uma distância de cerca de dois passos do escravo, para que ele seja forçado a ver sua mulher, que vem correndo com a maça, a ibira-pema, ergue os ramos de penas, grita de contentamento e passa em frente do prisioneiro, para que a veja. Neste momento um homem pega a maça, põe-se em frente ao prisioneiro e a mostra, de forma a que tenha de vê-la. Nesse entretempo, aquele que deverá matá-lo afasta-se com outros treze ou quatorze, e pintam o corpo com cinzas. Quando ele volta com os outros algozes para a clareira onde está o prisioneiro, aquele que está à frente do prisioneiro entrega-lhe a maça, e o chefe da cabana chega, pega a maça e passa-a uma vez entre as pernas dele. Isso, para eles, constitui uma honra. A seguir, aquele que o matará volta a pegar a maça e diz: “Sim, estou aqui, quero matá-lo porque a sua gente também matou e comeu muitos dos nossos”. O prisioneiro lhe responde: “Tenho muitos amigos que saberão me vingar quando eu morrer”. Nisto, o algoz golpeia o prisioneiro na nuca, de forma que lhe jorre o cérebro. Imediatamente as mulheres pegam o morto, arrastam-no para cima da fogueira, arrancam toda a sua pele, deixam-no inteiramente branco e tapam seu traseiro para que nada lhe escape. Depois que a pele foi limpa, um homem o segura e lhe corta as pernas acima dos joelhos e os braços rente ao tronco. Aproximam-se, então, as quatro mulheres, pegam os quatro pedaços, andam ao redor das cabanas e fazem uma grande gritaria de contentamento. A seguir separam as costas junto com o traseiro da parte dianteira. Dividem tudo entre si. As vísceras ficam com as mulheres. Fervem-nas, e com o caldo fazem uma massa fina chamada mingau, que elas e as crianças sorvem. As mulheres comem as vísceras, da mesma forma que a carne da cabeça. O cérebro, a língua e o que mais as crianças puderem apreciar, elas comem. Quando tudo tiver sido dividido, voltam para casa, e cada um leva seu pedaço. Aquele que matou o prisioneiro atribui-se mais um nome, e o chefe da cabana lhe faz uma incisão com o dente de um animal selvagem na parte superior dos braços. Quando a ferida está curada, vêem-se as cicatrizes, e elas têm o valor de uma honrosa ornamentação. Durante estes dias o homem fica deitado na rede. Dão-lhe um pequeno arco com uma flecha, com o que deve fazer passar o tempo, e ele atira sobre um alvo de cera. Isso ocorre para que os braços não lhe fiquem trêmulos por causa do espanto com o golpe mortal. Os selvagens não sabem contar além de cinco. Quando querem contar além, mostram os dedos das mãos e dos pés, e quando falam de um número grande, apontam para quatro ou cinco pessoas e querem dizer o número dos seus dedos das mãos e dos pés.”

Os tupinambás durante muitos anos foram considerados extintos, porém em 2009 a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) reconheceu como Tupinambá um grupo que possui por volta de 4.700 índios, que vivem o distrito de Olivença, em Ilhéus, Bahia, por isso o nome Tupinambás de Olivença. Os Tupinambás de Olivença vivem em áreas de moradia conhecida como lugares. Os tupinambás de Olivença perderam sua linguagem ancestral, se comunicando atualmente pelo português. A conversão da língua do povo tupinambá do Nheengatu, língua ancestral e dá cultura tupinambá, para o português atual, foi gradativa, segundo fontes, que diziam que na metade do século 18 haviam alguns índios falando português. E em 1938, Curt Nimuendaju, durante uma visita a Olivença, encontrou vários índios que ainda falavam Nheengatu, mas eram minoria. Levando a conclusão de que a generalização do português ocorreu no século 20. Entretanto outros costumes não foram perdidos, como o cultivo da mandioca, como dito anteriormente, sendo feitas farinha, beiju e giroba, entretanto o sistema de plantio é a agricultura de coivara, que necessita da derrubada e queima da mata, para limpeza do terreno e depois uma nova plantação. A pesca ainda ocorre, sendo feita em rios ou no mar, mas agora as mulheres também participam. Assim como disse acima, os tupinambás realizam a pesca. Utiliza-se armadilhas e pequenas redes como o jererê, que é confeccionado pelas mulheres. Sendo que no ato da pesca no período seco, as mulheres entram no rio e mergulham o jererê dentro d’agua quando veem um peixe, pegando-o. Outro método utilizado é uma armadilha construindo uma barragem em áreas de corredeiras, direcionando os peixes maiores para um só local. Os tupinambás também pescam no mar e coletam caranguejos no mangue, sendo este último entre Janeiro e Abril. A caça permanece sendo feita apenas por homens. A caça é praticada em todos os lugares pertencentes ao território tupinambá, mas predomina-se onde a floresta está em fase de regeneração e longe dos fazendeiros. Sendo o conhecimento da caça passada de geração em geração, contando como manejar armas e os hábitos dos animais.

Outra atividade importantíssima é a produção e extração de piaçava. A piaçaba é a atividade extrativista mais importante entre os tupinambás de Olivença, sendo uma dos primeiros objetos de troca no período colonial. Atualmente é utilizado para fazer vassouras, mas antes eram usados na amarração de navios. O real valor socioeconômico dos Tupinambás para a sociedade de maneira prática são seus conhecimentos tradicionais. A forma com que extraem a piaçaba, como fazem a farinha de mandioca e a fabricação de artesanato é diferente da que conhecemos, dando um algo a mais nos materiais, o que os deixa especiais e valorosos, garantindo então sua sobrevivência no mundo contemporâneo.

As festas tradicionais dos Tupinambás de Olivença estão muito ligados aos rituais católicos, como a festa do Divino Espírito Santo que é realizada no final do mês de Maio, reunindo tanto os que vivem na mata quanto os que vivem na Vila de Olivença. Nessa festa a bandeira do Espírito Santo circula durante um mês por todas as localidades da Mata. Os “romeiros”, como são chamados os que carregam a bandeira, visitam as casas e quando a bandeira sai da vila para a Mata diz-se que ela “entrou para o mato”. Quando se ouve o tambor, instrumento que anuncia a chegada da bandeira em uma casa, os moradores das redondezas se aproximam. A festa gera o encontro entre os vizinhos, assim como encontros entre as pessoas da vila e da Mata. Com o fim da festa uma missa é realizada na igreja de Olivença, reunindo índios de diversas locais. Aqueles que vêm da Mata ficam em casas de parentes até o amanhecer. A memória dessa visita à vila é relembrada pelos Tupinambá que vivem na Mata com frequência ao longo do ano.

Há também a Festa da Puxada do Mastro, em que um grupo de “machadeiros” tem o papel de ir até a área do “mato” e escolher os troncos que serão utilizados na fabricação do mastro e do mastaréu. Extraindo também parte do casco da árvore para promessas feitas a São Sebastião e para fazer chá. No dia da festa, às cinco da manhã se inicia com o sino da igreja. O encontro para a saída ao mato é na Praça Cláudio Magalhães. As pessoas se alinham de frente ao sino da festa. No mato, o tronco é cortado com muitas conversas entre os conhecidos e os vizinhos de Olivença, que muitas vezes são companheiros de festa. O corte do tronco é rápido e sua queda provoca muita agitação. Homens se aproximam e alguns, usando o facão, descascam-no. Parte do casco faz-se o chá, para proteção ou promessa. O objetivo é tornar o tronco mais liso para rolar com menos dificuldade quando arrastado. Na frente do tronco fazem uma abertura de um buraco onde será amarrada uma corda para que depois levante o tronco do chão. Na saída do mato, as crianças vão na frente, puxando o mastaréu, enquanto o mastro é puxado por todos os presentes. Depois da pausa para o almoço, os transportadores do sino entram pela praia. Os rapazes com o mastaréu correm para o mar e mergulham junto do tronco. Muitos sentam-se em cima dele para trazer sorte. Quando se chega à praia perto da vila, o número de pessoas aumenta. O grupo vai ganhando cada vez mais expressão e deixando os tocadores de zabumba para trás. Quando chegam à praça, são lançados foguetes e discursos de agradecimentos são proferidos.



Etnia:


Os Tupinambás fazem parte da etnia Tupi-Guarani, pertencente ao tronco linguístico Tupi, o qual habitava várias regiões costeiras do Brasil. Os tupis são os índios que falam (ou falavam) línguas pertencentes ao tronco tupi. Constituem a mais conhecida etnia indígena brasileira. Antigamente viviam na Amazônia, principalmente na parte baixa, ou final, do rio Amazonas. A partir daí, espalharam-se por uma grande faixa de terreno, ao longo da maior parte do litoral brasileiro. Entre seus grupos destacaram-se os tupiniquins e os tupinambás, que eram inimigos entre si. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, no século XVI, encontraram índios tupiniquins no litoral sul da Bahia. Outros grupos indígenas, como os mundurucus e os potiguaras, também fazem parte do chamado tronco tupi. Há também índios do grupo tupi que vivem em outros países: Venezuela, Colômbia, Peru, Argentina, Bolívia, Paraguai e Guiana Francesa.



Processos de resistência, permanência e lutas dos
Tupinambás durante o período colonial:


No século XVII o Norte do Brasil estava sendo invadido por ingleses e holandeses. Os portugueses, assim que venceram os franceses, estavam com medo de perder mais territórios e foi então que decidiram expandir em direção ao estado do Pará e da Amazônia. Construíram um forte com o nome de Presépio em Belém e os franciscanos fundaram uma casa nessa região.

Os Tupinambás que por lá habitavam, a princípio não esboçaram agressividade, mas estavam muito desconfiados e sabiam que diversas tribos haviam sido capturadas e escravizadas pelos colonos. Eles tinham afinidades com os franceses, e na primeira semana já começaram os conflitos com os portugueses que ocasionaram a morte de muitos indígenas e o extermínio de várias aldeias. Devido à postura dos colonos, os índios se uniram para tentar os expulsar de suas terras (atual Belém) e assim ocorreu o Levante dos Tupinambás, ou a Guerra dos Tupinambás. Os portugueses respondiam com muita crueldade uma vez que matavam os índios os colocando em frente a um canhão e os expondo à frente dos que não se submetiam à colonização. Em contrapartida os Tupinambás assaltavam os colonos e tentavam reunir armas, elaborando estratégias de guerras para tentar vencê-los. Nenhum dos lados cedia e as batalhas eram cada vez mais constantes e sangrentas. Em Janeiro de 1618 os Tupinambás do Pará se uniram com os do Maranhão para defender suas terras e se livrar dos abusos dos colonos. Muitos acabaram mortos, mas no geral não se renderam. O capitão português Castelo Branco não conseguiu conter os índios, perdia cada vez mais a credibilidade mediante a coroa portuguesa e foi deposto. Aproveitando o incidente com o capitão, no dia 7 de Janeiro de 1619 os Tupinambás atacaram o forte da cidade de Belém e seu líder Cabelo de Velha foi morto cruelmente pelos portugueses. Como forma de demonstrar seu poder, os colonos adentraram e atacaram as aldeias de Iguape e Guamá. Baltazar Rodrigues foi recrutado para substituir Castelo Branco e continuou exterminando os nativos que não se submetiam e escravizando os sobreviventes. Essas ordens eram camufladas pelos católicos que alegavam que estavam fazendo uma catequização amigável. Mas no geral, a relação entre os Tupinambás e os portugueses foi sangrenta havendo um genocídio entre ambas as partes. As guerras contra os nativos acarretaram em devastação das aldeias e diminuição da população. Após o falecimento do líder indígena Cabelo de Velha, os sobreviventes não viram outra solução a não ser de se unirem ao exército português e os ajudarem a defender o território de outros invasores europeus. Os que não lutavam eram prisioneiros de guerra, tornavam-se escravos e serviam como exemplo para outras tribos que não eram submissas.



Processos de resistência, permanência e lutas dos Tupinambás na atualidade


A luta dos indígenas brasileiros para ter o direito de se manter em seu território originário, tem sido, ao longo dos anos, uma luta desleal. Os índios brasileiros, em especial os índios em questão, da região sul do estado da Bahia, desde o século XVI, têm enfrentado diferentes tipos de opressões e genocídios. Nos recordando da chegada dos portugueses a esse território, em 22/04/1500 há 517 anos atrás, estima-se que havia cerca de 2 a 4 milhões de indígenas vivendo no território, hoje esse número é menos de 900 mil 3, significando menos de 0,5% da população brasileira.

O primeiro passo importante na luta dos Tupinambá, foi o reconhecimento étnico, que ocorreu no ano de 2001 concedido pela FUNAI. Esse reconhecimento oficial enquanto indígenas, pertencentes a um grupo étnico, foi fundamental para iniciar a luta pelo processo de demarcação das terras, pois até aquele momento, falava-se que não havia presença indígena no território nos últimos 60 anos. Após minucioso estudo, os indígenas puderam pleitear o direito à demarcação de suas terras. A luta pela demarcação de terras que envolve os índios Tupinambá de Olivença, Buerarema e Una torna-se comum à luta de tantas outras etnias pelo país. Os estudos para a demarcação de terras do povo Tupinambá se iniciaram em 2003, porém a morosidade com que a questão da demarcação de terras é tratada pelo Estado fez com que os Tupinambá pressionar vários órgãos para que os estudos fossem finalizados, e para isso, “invadiram” terras dentro do território que estavam inseridos na área de estudo, sendo denominado pelos Tupinambá como “retomadas” do território. Em 2009 o relatório da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) teve um parecer favorável para os Tupinambá, todavia, até o ano corrente nada foi feito, nada foi demarcado. Essa situação de instabilidade faz com que o clima na região fique cada vez mais acirrado, em algumas oportunidades por sinal, a Força Nacional de Segurança e o Exército Brasileiro se fizeram presente para “garantir” a ordem. Muito sangue nesta luta já foi derramado, e o Estado continua a se omitir. Por esse motivo, a união entre as etnias, com um sentimento e luta em comum, os torna parentes, faz com que a busca pela garantia de direito à terra, que é a defesa essencial, os una. E essa união relaciona-se com a generosidade em se conceder mútuo apoio pela luta, e para a luta. Sobre esta questão, escreveu Viegas:
“Este é um dos casos que nos mostra, de forma inequívoca, como a política étnica deve ser descrita não só como um sentimento de pertença mas, principalmente, como um comprometimento colectivo para a acção. Trata-se, com exactidão, daquilo que João de Pina Cabral descreve para o caso de identificação étnica dos macaenses: “os membros desta comunidade não só partilham um sentimento de pertença como são conduzidos a agir de acordo com os princípios que reflectem essa pertença” (2000:201). Para os índios do sul da Bahia, a experiência que une estes “parentes” e os convida à ação é identificada com o “sofrimento” vivido na época do desalojamento. Em situações públicas, os índios do sul da Bahia apresentam à população não indígena esse valor partilhado através de uma formatação narrativa que podemos designar ‘histórias de vida de sofrimento’’
(VIEGAS, in: RAMALHO; RIBEIRO 2001, p. 12)



Referencias:


HUGO, Vítor. Tupinambá: Quem são, população, costumes e modo de vida. Conhecimento Científico. Disponível em . Acesso em: 27 de dezembro de 2021.

Tupinambá. Britannica Escola. Web, 2021. Disponível em: . Acesso em: 27 de dezembro de 2021.

MATOS VIEGAS, Susana. Tupinambá de Olivença. Povos Indígenas no Brasil, 2021. Disponível em: . Acesso em: 27 de dezembro de 2021.

ALEXANDRE VICTOR e KEITIELLE RIBEIRO. O processo demarcatório das terras dos Tupinambá de Olivença:Entre vulnerabilidades, ressignificações e resistências. Disponível em:. Acesso em 29 de Dezembro de 2021.

MISLEINE NERES. MIsleine Neres. Infoescola: Navegando e aprendendo. Levante dos Tupinambás. Disponível em: Acesso em 29 de Dezembro de 2021.

STADEN, Hans. Duas Viagens ao Brasil. L&PM POCKET.

BORGES, Dayane. Tupinambás – História, costumes e as principais tradições. Conhecimento Científico. Disponível em: . Acesso em: 31, dez de 2021.

TUPI. Britannica Escola. Disponível em: . Acesso em: 31, dez de 2021.



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