Povo Yanomami


História de contato, localização e população

Os Yanomami formam uma sociedade indígena sustentável em meio ao norte e nordeste da floresta amazônica, onde se tem um contato relativamente recente com a nossa sociedade, tanto nacional quanto internacional, pois estão presentes também na Venezuela. A população Yanomami possui inúmeras denominações, entre as quais pode-se citar: Waiká, Guaiká, Xirixana, Xamatari, Pakitai, Guajaribos, e Yawári. De acordo com a classificação de Migliazza (1972), a família linguística yanomami é formada por quatro subgrupos, cada um com seus respectivos dialetos: Sanyma (ou Sanumá), Yanam (ou Ninam), Yanomam (ou Yãnomamè, ou Yainoma),  e Yanomamy (ou Yanomamo).

Indígena Yanomami. Foto: Funai

Sua área de vivência está presente em cerca de  192.000 km², tanto no Brasil quanto na Venezuela, na região do interflúvio Orinoco-Amazonas (afluentes da margem direita do rio Branco e esquerda do rio Negro). Segundo dados do Sesai/DSEI, em 2019 a quantidade de Yanomamis girava em torno de 28.780 indivíduos, distribuídos entre 8 povos segundo dados do site Terras Indígenas, e em mais de 150 comunidades, segundo a Comunidade Interamericana de Direitos Humanos.

Os Yanomami, se comparados com os outros povos indígenas do Brasil, têm um contato relativamente recente com o homem branco, pois mantinham contato apenas com outros grupos indígenas vizinhos até o fim do século XIX, onde ambos começaram a ter um contato mais comum e recorrente. Os primeiros  contatos da nossa sociedade com os Yanomami dos  quais se tem informações foram registrados em relatos de exploradores e documentos de  membros de expedições científicas que percorreram a região.

Na parte brasileira de seu território, os primeiros contatos sólidos vieram com  os extrativistas do local, junto com alguns soldados da Comissão de Limites e funcionários do SPI (Serviço de Proteção aos Índios) e aventureiros estrangeiros, e ocorreram entre 1910 e 1940. Já nas décadas de 70 e 80 vieram alguns projetos por parte do governo da época que fizeram com que o contato de nossa parte com esse povo ficasse ainda maior. Essas formas de contato vieram de duas formas: de início com os extrativistas, e logo após com a equipe missionária, também podendo ser relacionada com 1500. Juntas, as duas coexistiram como uma associação dominante no seu território. Porém, os anos 1970 foram dominados por projetos de desenvolvimento no âmbito do “Plano de Integração Nacional” de autoria dos governos militares da época - tal plano abordava, essencialmente, a abertura de uma estrada Perimetral Norte (1973-1976). A rodovia chegou a adentrar o território Yanomami cerce 225 km; junto a isso, trabalhadores da obra não vacinados e a falta de vacinas aos indígenas fez com que a população dos Yanomami de 13 aldeias no início da construção fosse devastada por epidemias de letalidade de um em quatro indivíduos. Além disso, tal desfecho indesejado resultou em conflitos entre colonos e indígenas, o que gerou um número desconhecido de mortes, resultando em ainda mais redução na população desses povos.

Índios Yanomami na rodovia federal BR-210.
Terra Indígena Yanomami. Foto: Bruce Albert


Aspectos sociais, culturais, religiosos e étnicos

Na comunidade dos Yanomami as casas coletivas ou aldeias possuem suas próprias políticas autônomas, além de serem entidades econômicas. As suas casas podem possuir dois formatos dependendo da região que moram, as moradias localizadas nas aldeias ao norte e nordeste possuem formatos retangulares e as moradias que se localizam em aldeias do leste e oeste possuem formatos de cone. As relações matrimonias que os membros dos Yanomami realizam normalmente são consanguíneos, se casando com primos do primeiro grau.

Aldeia Yanomami. Foto: CNN Brasil

Os Yanomami, juntos de grupos vizinhos formam uma grande e complexa rede sócio-política, eles juntos a esses grupos realizam uma série de trocas e relações cerimoniais, matrimoniais e econômicas. O espaço de cada casa coletiva dos Yanomami pode ser separado em três círculos, o primeiro tendo 5km de raio, sendo usada por toda a comunidade e as atividades praticadas são nela são: coleta feminina, pesca e atividades agrícolas. O segundo tendo raio de 5 a 10km e as atividades praticadas nela são a caça individual e a agricultura familiar. O terceiro círculo tem 20km de raio e é usado para caças coletivas que antecedem os rituais funerários, além de expedições de mais de uma família com duração de três a seis semanas para áreas onde está maturando uma nova roça, nesse círculo também se encontra roças antigas e novas onde existe uma grande quantidade de animais para se caçar.

O nome “Yanomami” vem de uma criação antropóloga a partir da palavra “yanõmami” que junto do termo “thëpë”, quer dizer “seres humanos”. Na cultura dos Yanomami, a sua criação vem da copulação do “demiurgo Omana” junto da filha de um monstro aquático “Tëpërësiki”, sendo que segundo sua cultura o filho de Omama foi o primeiro xamã dos Yanomami, além de Omama estar ligado diretamente com as regras e cultura atual dos Yanomami. Continuando, segundo eles o irmão de Omama, Yoasi, que era bastante ciumento, é a origem de tudo de ruim que existe nesse mundo e que Omama deixou os xapiripë para cuidar dos humanos.

A inicialização que os Pajés recebem é dolorosa, já que por dias eles inalam um pó alucinógeno que é extraído da árvore “virola”, e durante o efeito desse pó eles são treinados a entender e responder os cantos dos “xapiripë”. Os xapiripë são seres fantásticos de forma humanoide que possuem vários enfeites coloridos e brilhantes.

Por conta dos Pajés terem essa ligação com os xapiripë, eles são considerados os pilares das sociedades Yanomami, já que eles conseguem ver e se comunicarem com seres de outro mundo. Os pajés também são considerados negociadores e domadores do invisível e que se dedicam a domar as forças que regem a ordem cósmica.

Para os Yanomami a terra e a floresta têm o nome de “Uriri”, e foram locais dados a eles pelo Omama, para que seus indivíduos e suas futuras gerações possam viver. Para eles, Uriri não é apenas um local para extrair suas necessidades, mas sim uma entidade que possui vida e é uma fonte de fertilidade. Os animais que vivem em Uriri são vistos com avatares da primeira humanidade que foram revividos nessa nova forma.



Processos de resistência, permanência e luta

A história dos Yanomami é marcada por diversos processos de luta e resistência para manterem suas terras, enquanto defendem suas crenças. Seu território é rico em minérios e isso demandou diversas lutas em seu processo de resistência para que o mesmo não fosse ameaçado e aberto a grupos econômicos; é possível ressaltar a abertura do primeiro grande garimpo de ouro no Furo de Santa Rosa onde aconteceram as invasões do território indígena, requerendo providencias da FUNAI. Um ponto de luta a ser mencionado é a criação do parque indígena Yanomami, vista por muitos como a solução para garantir as terras e a sobrevivência desses povos. O fato é que, seja pelo lado brasileiro ou pelo lado venezuelano, os Yanomamis se encontram em meio a diversas questões políticas que acarretam diversos interesses e que exigem deles um processo de luta constante para que possam garantir a permanência naquilo que é seu por direito.

Entre as muitas reportagens que podemos ver atualmente encontramos a seguinte: “Uma luta de resistência centenária: Garimpeiros invadem território Yanomami e atiram contra indígenas”. Observando-a é possível fazer uma reflexão de que essa luta em muitos massacres ocorridos com os povos indígenas vem de muitos e muitos anos e até o presente momento, são conflitos que parecem nunca ter fim. Ademais, segundo a entrevista, “registos do centro de documentação da CPT mostra que os Yanomamis resistem a invasão de seu território desde 1700. Os mesmos registros mostram que de 1987 a 2013 houve quatro massacres contra indígenas Yanomamis em Roraima, vitimando 30 indígenas nos casos”.

Indígena yanomami acompanha agentes do órgão
ambiental brasileiro durante operação contra 
mineração ilegal de ouro em terras indígenas, em 2016.


Quando nos aprofundamos na história dos Yanomamis encontramos fatos que mostram que os mesmos sempre viveram de forma próspera, porém no decorrer dos anos a luta para proteção de suas terras vem se tornando cada dia mais aguerrida. Historicamente durante a década de 80, os Yanomami tiveram suas terras invadidas por garimpeiros, expondo-os a doenças, massacrando e destruindo suas aldeias, tanto que em sete anos 20% desses povos fora dizimado. Outro ponto a ser mencionado é que após uma grande campanha internacional, a terra Yanomami foi demarcada em 1992 sendo conhecida como parque Yanomami. O fato é que em 1987 as terras Yanomamis foram invadidas por milhares de garimpeiros, as transformando em um caos de violência e degradação; tal acontecimento teve grande repercussão e ampla divulgação na imprensa em todo o mundo, e então, devido a essa pressão e a campanha mencionada anteriormente, foi feita a demarcação do parque - no entanto, as invasões continuam.

Terra Indígena Yanomami


Vídeo: Nossa terra, nossa herança. [Disponível em: https://vimeo.com/297923245]

No vídeo citado, o xamã Davi Kopenawa Yanomami fala sobre o projeto de lei que tramita no congresso nacional brasileiro para autorizar mineração nos territórios indígenas. Ao analisarmos os dados históricos, é possível compreender que se aprovado esse projeto irá prejudicar por demais esses povos. Os Yanomami tiveram que defender não só o seu território, como também resistirem aos processos de desestruturação socioespacial e cultural, pois após a invasão de seus territórios pelos homens brancos sejam por construção de estradas, garimpo, fazendeiros, madeireiras; esses povos resistiram e mantiveram seus saberes tradicionais. Em mais um ato de resistência em 2021 foi lançado um longa-metragem na competição oficial da 71 Berlinale de Luiz Bolognezi intitulado por “A última floresta” sendo uma mistura entre documentário e ficção com atores indígenas denunciando garimpos ilegais e desmatamento, sendo que seu roteiro é coassinado pelo xamã Davi Kopenawa.



Referências

Yanomami. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Yanomami. Acesso em: 7 jan. 2022.

Os Yanomamis. A fragilidade da sua cultura e condições de sobrevivência física e cultural. Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Disponível em: http://www.cidh.org/countryrep/brazil-port/Pag%206-1.htm. Acesso em: 20 dez. 2021.

Alguns dados sobre os Yanomami. Boletim do Museu Integrado de Roraima. Disponível em: https://periodicos.uerr.edu.br/index.php/bolmirr/article/view/709. Acesso em: 20 dez. 2021.

"A 12 km”: indígenas Yanomami isolados nunca viram o garimpo tão próximo. Pública. Disponível em: https://apublica.org/2021/09/indigenas-yanomami-isolados-nunca-viram-o-garimpo-tao-proximo/. Acesso em: 20 dez. 2021.

Uma luta de resistência centenária: Garimpeiros invadem território Yanomami e atiram contra indígenas. Justiça Global. Disponível em: http://www.global.org.br/blog/uma-luta-de-resistencia-centenaria-garimpeiros-invadem-territorio-yanomami-e-atiram-contra-indigenas/. Acesso em: 27 dez. 2021.

Movimento de resistência socioterritorial nas terras indígenas Yanomami. Revista Movimentos Sociais e Dinâmicas Espaciais. Disponível em: https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&url=https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistamseu/article/download/242946/34021&ved=2ahUKEwiTsZq6uoT1AhXlGrkGHcozDvoQFnoECDMQAQ&usg=AOvVaw3yj61EgIbse_M_yJIeY76F. Acesso em: 27 dez. 2021.

Os Yanomami. Survival Brasil. Disponível em: https://survivalbrasil.org/povos/yanomami. Acesso em: 27 dez. 2021.

Timeline: Cronologia Yanomami no Brasil. ISA - Instituto Socioambiental. Disponível em: https://widgets.socioambiental.org/widgets/timeline/459#1. Acesso em: 8 jan. 2022.

Garimpeiro que invadiu terra Yanomami nos anos 80 é líder dos lobistas a favor da exploração em área indígena. Jornal El País. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2021-11-29/garimpeiro-que-invadiu-terra-yanomami-nos-anos-80-e-lider-dos-lobistas-a-favor-da-exploracao-em-area-indigena.html. Acesso em: 20 dez. 2021.



Saiba mais

Yanomamis: a luta de um povo para proteger suas tradições. Brasil de Fato. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rMQTH5SrSMY.

Yanomami: A Terra Garantida. Museu do Índio UFU. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3IFOPbQvXjY.

Não dá para dormir | Fórum de Lideranças Yanomami e Ye'kwana. ISA - Instituto Socioambiental. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GS2vSMddgwo.

Os Yanomami (1984). Globo Repórter. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=mnY93uVBZyc.



Um trabalho por:

Cesar Neiva Ribeiro
João Pedro Tanure Oliveira
Patrick Ramalho de Sousa
Paulo César Rodriguês Passos